terça-feira, 29 de julho de 2014

Seqüência 21 – Efeito Barbara Evans

O quintal estava vazio, toda a erva do mundo tinha sumido e Pernalonga estava debruçado sobre a mesa, apertando sementes com uma faca, algumas delas giravam sob o peso da lâmina, sem estalar, escorregando e sendo projetadas como uma bala, quicando nas paredes e, algumas vezes, como que combinado, indo em direção aos olhos de Darío Vuturuá, que testemunhava a cena e era responsável por coletar essas sementes fugitivas.
- Eu sempre soube que fumar as sementes fazia mal, por conta dos óleos e tal.
- Não é o que diz a filha da Monique Evans. Ela fez polêmica na internet, dizendo que come semente pra saúde da pele.
- Mas comer não é fumar, certo? Fumaça e comida vão para buracos diferentes.
- Tô sabendo, tô sabendo. Mas não ter o que fumar é foda. Tô trampando de peão, fii. De manhã até as cinco, virando massa e conversando fiado. Quando chego em casa, quero fumar, pô.
- Pensei que você ia aceitar a oferta do Lagarto.
- Pra vigiar uns traficantezinhos de merda pra ele e o padre jamaicano? Mánenfodeno. Pouco me importa que só eles tenham maconha boa e esses moleques estejam desperdiçando a deles, chamando a atenção e armazenando mal (falou o cara que enterrava a erva no quintal), eu quero ficar sossegadinho na minha, que o bicho tá pegando, ozómi tão de olho e euzinho, eu, eu cabei de sair da cana e não tenho disposição nenhuma pra voltar.
- Olha, o seu amigo Chiquim teve aqui hoje no almoço.
- É? E o que quê ele queria?
- Ele falou que ia soltar o tatu. Acho que ele queria usar o banheiro.
Pernalonga ficou encarando aquele arremedo de ser humano diante dele por um segundo. Então, pensou seriamente em esmagar a cabeça de Darío, como pensara ter feito algumas semanas atrás. Mas preferiu correr até o fundo do quintal, onde constatou que Chiquim tinha mesmo roubado o seu tatu. Isso não podia ficar assim.

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